terça-feira, 28 de agosto de 2012

Veia cômica

Gente, eu fico cada vez mais inconformada com a quantidade de idiotices que leio por ai, refiro-me especialmente a internet. Tá, você provavelmente pensa o mesmo e, inclusive, pode até achar que esse aqui é mais um deles e eu te digo antes que avance por mais algumas linhas: é mesmo, por favor não se dê ao trabalho, fuja enquanto há tempo.

Não foi embora? Melhor ainda, mas saiba que essa é minha opinião sobre mais uma dessas discussões que engrandecem ~só que ao contrário~ a websfera.

Hoje, qualquer um pode criar um blog, emitir sua opinião, criar protestos onlines, ver pornografia, publicar pornografia, rir de piadas boas, ruins e péssimas. Essa é a essência da internet. Esse ainda é um território bastante livre, com regras que vão se formando aos poucos, algumas boas outras ruins. Mas, isso é natural em se tratando do crescimento de uma sociedade - porque é assim que vejo a internet hoje, uma sociedade em formação.

Acontece que hoje vi algo que me deixou extremamente incomodada. Um blog feito por um macho em busca de fêmeas para reproduzir publicou um vídeo bem dos inconvenientes no qual um namorado quer experimentar fazer sexo anal com sua namorada ( o post é lá do começo do ano). Ela não permite e a solução prática encontrada é: dar uma tijolada na cabeça da fêmea, deixa-lá desacordada e fazer o 'serviço'. Engraçado, né? Aliás, cômico! Como é que nenhum gênio do humor não fez isso antes? Como o Zorra Total não pensou em algo assim antes de colocar duas mulheres sendo abusadas dentro de um metrô?

Pena que eu me sinta absolutamente estranha por não ter rido com a piada, e mais, por ter me sentido ultrajada ao ver o vídeo. E quando um grupo de mulheres e homens tentaram mostrar para o digníssimo senhor que publicou o vídeo que aquilo se tratava de algo bastante degradante a resposta foi tão cômica quanto o vídeo! Foi algo como: ah, essas feministas sem senso de humor! Risos eternos daquilo que se tornou o maior lugar comum dos últimos anos.

E, mais, mulheres, em defesa da tijolada na cabeça, desculpe, da ousadia do humor, passaram a enviar cartazes do tipo 'sou mulher, acesso o blog e tenho senso de humor'. Porque, realmente, quem é que não acha uma penetração anal forçada uma excelente piada??? Ah, essas feministas que acham problema em tudo! Eu não vejo problema algum em rir do vídeo, é apenas uma piada! Um homem passou a mão na sua bunda dentro do ônibus? Brincadeira! O outro encostou no teu seio na fila? Ria!

Porque a falta de um bom argumento é quase sempre expressa por duas vias: Riso exagerado ou violência exagerada. Eu sou mulher, tenho senso de humor, não vejo problema algum em um blog que estimule a sexualidade das pessoas, mas acho que em um mundo que ainda luta contra os crimes sexuais esse tipo de publicação é apenas burra e acomodada e reitera o real pensamento de muito homens.


segunda-feira, 16 de julho de 2012

Aquela velha história


Minha bisavó se casou aos 14 anos, teve três filhas e um filho; minha avó se casou aos 30 anos teve cinco filhas e um filho. Minha mãe se casou – informalmente- aos 41 anos eu já tinha 19 anos. A sociedade evolui, as pessoas criam consciência do tempo em que vivem, é tudo absolutamente mutável – ainda bem!

Hoje, uma revista voltada ao público feminino pode falar sobre sexo, dar dicas de vibradores, ensinar o kama sutra; este blog pode escrever a palavra ‘masturbar’ sem medo de pequenas repressões sociais; minha mãe pode ler isso sem ter vergonha do burburinho por entre a vizinhança.

Mulheres, vindas ou não da costela de Adão, tem (quase) tanta liberdade quanto os homens. Estes, por sua vez, não precisam nos impressionar mais. E, acho, que isso é um ganho para ambos os lados! Imagine a pressão social pela qual um homem passava nos anos 50. Meu avô quase não pode se casar com minha avó por ser nordestino-baiano-barbeiro. Qual futuro haveria de dar à sua prole?

Mas os tempos são outros. O que me espanta é que mesmo assim hoje eu ainda me deparo com o conteúdo absolutamente ultrajante de certas revistas femininas. Neste final de semana li uma publicação voltada a mulheres entre 18 e 25 anos e senti que a mensagem final da publicação era: “Mulher: Seja linda, ousada, inteligente – mas, não tanto -, prendada e sexualmente ativa, assim os homens não resistirão!”.

Homens e mulheres, quem nunca acordou e teve vontade de colocar sua melhor roupa, ‘ajeitar o cabelinho’, andar pelas ruas e receber elogios? Ou então, quem nunca procurou fazer algo sozinho, seja uma massa ou um texto para um blog, e ficou feliz ao notar que foi um sucesso?

Nossas conquistas devem ser grandiosas para que nós mesmos possamos desfrutá-las. E acho que algumas dessas revistas femininas acabam distorcendo a realidade, ou camuflando-a em um lindo filtro sépia.

Há pouco, vi um blog novo: uma menina linda de 22 anos escrevendo um texto absolutamente destrutivo. Nesse microblog, ela vai contar quais suas frustações por estar ‘gorda’ e, pelo que entendi, vai narrar uma nova vida, sua ressurreição como uma pessoa magra.

Ora pois, neste exato momento me vejo boquiaberta em frente ao computador perguntando a mim mesma ‘Ela não tem a menor ideia de como é bonita e de como escreve bem, como eu gostaria de ser sua amiga, te dar um abraço e dizer o velho discurso da real beleza’. Mas, tornando à consciência, vejo que além de não ter qualquer intimidade para isso, nada vindo de mim ou até mesmo de um amigo poderia mudar a percepção dela sobre seu corpo. Não posso afirmar que isto é culpa das tais revistas, mas essas publicações também não fazem o papel contrário, se apresentam como cúmplices das mulheres, mas pouco passam de guias de bons costumes.
                                  
Lembro-me de quando tinha 13 anos e lia o que me parecia ser o ideal-inatingível, os vestidos lindos de festa, tratamentos caríssimos para os cabelos, produtos que prometiam acabar com aquelas espinhar horríveis, mas que apenas deixavam minha pele mais estranha e avermelhada. Eu tinha apenas 13 anos e já era bombardeada de desejos que sequer eram os meus. No auge dos meus 47 quilos me achava rechonchuda e indigna de dirigir qualquer palavra aos meninos da minha sala.

Ressalto que não culpo essas revistas por minha insegurança. Mas, hoje, um pouco mais esclarecida, vejo que parte de minhas vergonhas por ser tão distante do padrão vieram de quem escolhia esses padrões. Faço a mea culpa como parte disso, escolhi a profissão que mais admiro, mas também a que mais condeno. Adoraria fazer parte de uma possível evolução de certos canais de comunicação, desde que assim eu pudesse abrir uma dessas revistas e sentir que algo está sendo feito.


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Welcome to your life/ There's no turning back
Even while sleep/ We will find you
Acting on your best behaviour/Turn your back on mother nature


Everybody wants to rule the world






quarta-feira, 4 de julho de 2012

Mais de futebol


Quarta-feira, final da Copa Libertadores da América, dois dos grandes times se enfrentam: Boca e Corinthians em um jogo histórico. E você, com todo o tédio do mundo, me responde: eu sequer gosto de futebol, não aguento mais os debates desnecessários sobre isso, desde quando as pessoas deixaram de se importar com a possível cassação de Demóstenes para articular artigos infinitos sobre o último gol do Romarinho?!

Pois bem, eu nunca cultivei qualquer tipo de sentimento pelo futebol, sou palmeirense de família, sempre gostei mais da cor verde do que a rosa, mas não acho que isso tenha relação com meu time. Fui entender o amor incondicional ao time há meses, quando vi aquele homem barbudo, de quase 1,90m, vestido de preto e branco chorando como uma criança ao ver o Corinthians ser campeão do Brasil. Ele se juntou a milhões, abraçou inimigos, cantou pelas ruas, ligou para os irmãos, abraçou a namorada e viu o coração bater forte em um ritmo que nunca pode explicar.

Não teria palavras para descrever a emoção, sentiu-se poeta ao narrar seu amor ao time, como os autores que já tentaram descrever o sentimento que invade o peito dos amantes no primeiro beijo e que derrama lágrimas dos olhos das mães ao ver orgulhosa seu filho prosperar. É assim que alguns enxergam o futebol. E os outros que julgam loucos os torcedores pouco sabem de amor, se soubessem aplaudiriam cada passo dado pelos jogadores em sincronia com o canto da torcida.

Eu, que nada sei sobre futebol, mas entendo um pouco mais do amor anseio por cada novo comentário que surge sobre o tão esperado jogo, de nada me importa a escalação feita por Tite ou se Riquelme estará em sua melhor forma, quero mesmo que cada um dos torcedores mostre o mais íntimo de si ao primeiro grito de gol, quero ver as acaloradas discussões sobre a existência ou não dos ‘antis’, quero afirmar que apesar de muitos erros, o futebol também é feito de acerto, porque é composto por pessoas apaixonadas e que estas são maioria, não devem ser confundidas com aquelas que vão as ruas apenas para criar atrito ou levam os punhos fechados para atacar qualquer um que se oponha ao seu time.

E, mesmo não torcendo por nenhum dos que jogam hoje, espero só o melhor do futebol. Que mexa com os nossos ânimos, que tire o sono de milhões, mas que dê significado a vida de muitos!

terça-feira, 19 de junho de 2012

aos meus bons amigos


Ela te apoia, te suporta, te reprime. Por vezes pode ficar balançada, mas logo sara e volta do ponto de partida. Ela faz você sentir vergonha por ter parado de postar no blog, faz você voltar atrás e pedir desculpas a quem ofendeu. Quando nos esquecemos, ela nos faz lembrar. Ela faz a empatia ser algo rotineiro, faz o amor ser permanente, acolhe a alma, traz de volta as lembranças. Segura em nossa mão e nos dá vida.

Ela não é uma só, são várias em uma. Ela está presente naquele e-mail dolorido de despedida, nas longas conversas com o namorado, nos vídeos engraçados, nas reflexões mais profundas sobre a vida, na conversa de fim de tarde com a família... é onipresente. Ela que não se define como um sentimento ou simples adjetivo me faz sorrir quando as coisas deram erradas.

Ela deixa saudade, mas também deixa o bar sempre mais gostoso. Ela faz as redes sociais serem mais interessantes do que realmente são. Ela traz responsabilidades e te faz crescer, mesmo quando as conversas são das mais infantis. Ela te atende no meio de uma briga. Ela causa um ciumezinho bobo de vez em quando.

Ela faz tudo isso por mim, tudo isso por todos que entendem sua dimensão. Ela não tem gênero, idade ou justificativas, quando aparece sabemos que chegou e, para mim, se chega é pra ficar.

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Ela é essencial.

domingo, 13 de maio de 2012

Mama África

Eu não sou poetisa. Já fingi pra mim mesma que poderia escrever alguns versos e que as pessoas ficariam emocionadas e, então, alguém publicaria um livro com minhas melhores poesias: Lira dos meus devaneios. Os críticos diriam: "Edgar Alan Poe nunca foi tão profundo quanto essa jovem escritora...". Mas, sou jornalista, dessas bem reais que prefere resgatar as memórias escondidas e, sem qualquer enfeite ou metáfora, colocá-las no papel.

Hoje, dia das mães, pensei em escrever algo que emocionasse, que fizesse a dona Jane voltar infinitas vezes no blog e pensar que a ausência de um presente teria sido compensada em um belo texto sobre o quão grata eu sou por tê-la como mãe. Bem, ela sabe disso. O amor que sinto por ela não espera o segundo domingo do mês de maio para ser exposto. Ele é diário. Amo-a todo santo dia, até em nossas brigas quando penso em sair de casa faço isso com a dor de quem ama.

Minha mãe me teve aos 23 anos de idade, mãe solteira, mantinha uma casa e uma família. Mama África, como a canção de Chico Cesar dizia. Sem muito dinheiro trabalhava aos finais de semana, fazia bicos, organizava as finanças, educava a mim e a minha tia-irmã (coisas dos Donegatis), pegava o carro emprestado pra fazer a compra do mês, se enforcava pra dar um presente no aniversário.

Dona Jane é mãe-pai-amiga. Seu olhar persuade, desfalca, aconchega. Suas ideias fascinam, embriagam e irritam. Porque nada que é real é só bom ou ruim - embora, quase sempre eu note apenas suas partes boas, deixando de lado os defeitos. E o que mais amo em minha mãe é que ela é real, não passa a mão na minha cabeça quando erro, não deixa de falar o que pensa porque aquilo pode me irritar, se achar que engordei vai me dizer, se ler esse texto e discordar de algo irá falar comigo.

Porque é assim que as coisas funcionam com a Mama África, ela pode estar com dor de cabeça e mal estar (de fato está), mas se achar que pode ajudar em algo não hesitará :)




sexta-feira, 27 de abril de 2012

O incrível mundo de Ari


Plantão no feriado, dor de cabeça, espinha no rosto, código florestal, fechamento de relatório, nova cpi, contas... essa dor de cabeça que não passa nunca; Ir pra academia, salvar a Amazônia, erradicar a fome, ‘merda, será que já taparam o buraco da camada de Ozônio?’.

No sábado dá tempo de dormir e fazer algumas dessas coisas, mas não corto o cabelo há meses e tem minha sobrancelha que... Gente, o e-mail do cliente! Quem inventa de lançar campanha na sexta-feira véspera de feriado? Caros, conforme dissemos há pouco, esse usuário não tem grande repercussão no Twitter, portanto... Esqueci que tinha combinado de rever um arquivo antes das 17h, será que dá tempo?

Alô. Sim, sou eu. Pois é Carlos, como eu disse nos e-mails vocês podem ficar tranquilos porque, apesar de a campanha ter sido lançada no fim da sexta-feira, vamos conseguir uma boa mobilização. Será que usei a palavra certa? Ele é formado em que? Não vai vir com papo de que é publicitário e Zzzz... Claro que estou de acordo, Carlos! Segunda-feira, assim que chegar vejo isso para vocês. Não, não dá pra antecipar pro domingo, mas fica tranquilo. Filho da mãe, me colocou na espera!! Lê, você acredita que o cliente quer uma análise pra domingo? Oi, Carlos, sim segunda nos falamos, abraço.

Preciso de uma playlist nova. Cadê o grampo que estava no meu cabelo? A dor de cabeça só pode ser muscular, vou me alongar no banheiro. Ai, esqueci de fazer xixi! Vou segurar até ir embora, assim num gasto muito tempo. Lê, amor.. será que hoje podemos jantar em um lugar bem gostoso? Sim, eu ia fazer dieta, mas como matriculei na academia acho que posso não fazer, né?

Nova mensagem: aprovação de análise. Ah, a última do dia! Agora vou só dar uma olhadinha no Facebook e já...Quem é essa broaca que comentou mais de uma vez no perfil do Lê? Amiga, olha o perfil dessazinha, posso com isso? “200 operários ameaçam cometer suicídio na Foxconn”; Como pode colocar o trabalho acima da vida? Nova mensagem: escala feriado. Ok, já sabia. Merda, o meu chefe vai me matar...onde coloquei aquele e-mail com os números... ‘Ariane, a entrega vai atrasar?’. Respiração tântrica. Foco na sexta-feira, foco no concerto da camada de Ozônio.

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Cenas meramente ilustrativas, claro que eu não perdi o e-mail ou atrasei o relatório.....

terça-feira, 24 de abril de 2012

Dona Dita


Escutando o velho rádio cinza, olhou para a janela da cozinha de sua casa e notou que alguns vidros não haviam sido limpos conforme gostaria. Irritou-se; Não que fosse apegada às janelas ou a algum tipo de limpeza profunda, apenas que ‘os nervos’ estavam à flor da pele.

Quem a conhece sabe que se deixa tocar Roberto Carlos no último volume e começa a limpar o guarda-roupa é porque o dia começou errado. Nessa manhã, notou que além de sujeira no vidro da janela, não havia água na geladeira. Arrastou o chinelo pela casa resmungando de suas obrigações como mãe, como vó, como esposa...

Foi no quintal regar suas plantas, já que essas pareciam ser as únicas que davam ouvidos a ela ultimamente. Mas, não eram; As filhas ouviam seus pitacos sobre a saúde dos netos que comiam tão pouco! Os netos, por sua vez, ouviam sobre os perigos de se estudar e trabalhar em São Paulo, a importância de se tirar boas notas e a cada novo conselho surgia uma nova piada.

Aliás, uma de suas marcas são as piadas e brincadeiras. Todo aniversário havia um presente, e em todo presente há umas 15 embalagens, o felizardo teria de passar por camadas de papéis coloridos até chegar em caixas para, finalmente, abrir um envelope com um colar ou uma meia. Uma vez, na Páscoa, os netos retribuíram com um ovo grande, suculento... quando abriu a embalagem viu que era só uma manga madura -  riu e chorou tanto que a família achou que teria um ataque.

Mas a saúde é de ferro, só fica parada quando as filhas apontam para o pé inchado de tanto andar. Quando serve a mesa é a última a sentar, certifica-se que todos estejam servidos, que não falte um grão de arroz na mesa, para então poder sentar e fazer seu prato – sem deixar de olhar para as refeições alheias, mede cada garfada dos presentes.

No passado, tinha de dividir um ovo e muita farinha entre os filhos. Hoje, não deixa que estranhos saiam de sua casa sem uma xícara de café ou um copo de água, aos mais íntimos oferece bolacha, à família abre a geladeira e a despensa, oferecer e aceitar comida é termômetro de amor.

E hoje, mesmo fingindo preferir ouvir o rei às reclamações dos netos e filhos, não se aguenta de amores pelos seus queridos. Rega as plantas, serve a mesa, varre o chão, pega as crianças no colo... Dita move uma família.




segunda-feira, 23 de abril de 2012

Sonho brasileiro




Há tempos tento escrever um post sobre consumismo. Só de ter lido esta palavra você já deve ter pensado 'nossa, mais um?'. É, eu sei... não gostaria mesmo de falar mais do mesmo. Por isso, começo o post com esse vídeo (desculpem, não consegui anexar, tive de colar a url). O vídeo é longo, mas a essência é a seguinte: um menino decidiu montar seu próprio parque de diversões apenas com caixas de papelão, fita adesiva e brinquedos antigos.

Parece que ele já juntou algo como 200 mil dólares com sua invenção e pretende investir o dinheiro na faculdade. Deixando minhas considerações sobre a delícia que é poder sair da caixa e encontrar um lugar no mundo, vou partir a outro ponto. Pra mim, as atitudes dessa criança e desse pai são admiráveis! 

E chama ainda mais a atenção a disponibilidade do pai por incentivar a criatividade do filho e não somente dar um ingressos para o parque, brinquedos, jogos ou televisão.

Isso me lembrou do novo ‘sonho brasileiro’. Viajar para um polo comercial – de preferência Estados Unidos – e investir todo o salário do ano em roupas e assessórios de marca. Deixo claro que não condeno, sequer julgo, a necessidade ou vontade de se gastar qualquer quantia em objetos ou propriedades, sejam elas essenciais ou supérfluas, pois isso é algo extremamente subjetivo, passivo de diversas interpretações.

O que incomoda é a forma como esses paraísos das compras passaram a ser valorizados. Com o desenvolvimento do país, a valorização da nossa moeda e a consequente melhora na situação financeira de muitos brasileiros, virou obrigatório ir à Miami consumir o estilo de vida americano. Comprar calças que quase sempre terão as barras feitas, casacos para neve, blusas com mangas mais longas que nossos braços.

O preço é mesmo tentador, não há dúvidas. Só fica a desconfiança se não estamos abrindo mão do sonho do ‘parque de diversões caseiro’ e dando espaço a um sonho que sequer é de nossa autoria.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

auto-retrato

Ela queria ser mais, um mundo só dela se formava a cada novidade que lhe era apresentada. Ela queria dançar, rodar, fechar os olhos e respirar um ar só seu. Em um quarto banhado pela luz do fim da tarde de outono, com o frio entrando aos poucos pelas janelas e espalhando o cheiro de café que sentia na sua infância, quando o mundo ficava errado, mas logo se acertava com o baixar das luzes.

Ria debochada de suas bobagens. Lembrou das vezes em que disse que a noite tinha cheiro, a água tinha gosto e as estações do ano cores. Sorriu de novo, voltou a música... tornou a fechar os olhos e dançar. Na ponta dos pés, girando sem vertigem, erguendo os braços, respirou profundo aquele momento gostoso.

Caiu no chão, a poeira do carpete pouco importava, por ali permaneceu deitada por uma quantidade de tempo  inestimável, quando estava em seu mundo as horas eram outras, perdia-se acelerando ou retardando o relógio. Abriu os olhos, colocou as mãos na cabeça e se levantou. Deu o primeiro suspiro realista do dia, e voltou a rir ao lembrar de sua patética figura deitada no chão sujo.





quarta-feira, 18 de abril de 2012

Vida no Ato


Ato 1

Suas feições eram mesmo parecidas, seus traços comuns, mas não foi difícil notar que havia uma grande diferença entre cada um daqueles rostos iluminados pelo canhão de luz que vinha lá do fundo. Eram aproximadamente 30 expressões, personalidades distintas marcadas pelas semelhanças típicas de crianças com Síndrome de Down.

Quando as cortinas subiram mal continham o riso, levavam as mãos na boca mostrando a ansiedade, como se aquela fosse a primeira noite em que se apresentariam. A luz amarelada e a música alta tomaram conta do palco.

Abaixam-se as cortinas...

Durante a Idade Média suas feições eram usadas como ideal do rosto angelical e nessa mesma época sua expectativa de vida não passava dos 15 anos. Hoje, com estudos avançados na medicina, a expectativa de vida de uma pessoa com Trissomia do cromossomo 21 pode chegar aos 70 anos.


Ato 2

“Nós iremos fazer de conta de que isso aqui é uma audição, quem quiser pode se apresentar”. Assim que o diretor deu o sinal, as luzes diminuíram e uma bela dançarina entrou no palco, seus braços estavam contorcidos, demonstrando certo receio em se apresentar para tantos estranhos, ela esboçou um sorriso tímido, mas, em poucos segundos, se transformou na estrela do palco.

Hoje, relembrando do espetáculo, penso como aquelas crianças são únicas. Antes, eu poderia apenas afirmar que são como nós que carregamos apenas um par do cromossomo 21. Mas, reduzir tudo a apenas isso seria falho de minha parte. Porque eles são mais, eles têm paixão em cada ato. Não deixam o sorriso sair de seus rostos por um momento, interpretam a dor com o olhar tranquilo, mesmo no palco choro chega anunciando futuras cócegas.

Pode ser a paixão pelo teatro, a emoção de ser o centro de um espetáculo tão grande, a felicidade por ver a família esperando as cortinas baixarem para entregar o buquê de flores, ou simplesmente a alegria ao receber aquilo que lhes foi dado.


Ato 3

O espetáculo Up não é apenas uma peça de teatro, ou um musical. É a única forma com que algumas dessas crianças com Síndrome de Down têm para se expressar. A apresentação na frente de um público desconhecido já é uma vitória para muitas dessas crianças. Eles mal podem esperar para o momento em que serão as estrelas da peça que gira em torno de comédia e música. Todos terão seu ato e isso os move.


Ato Final

Com os cabelos longos e louros a jovem acompanhava com os olhos uma linha desenhada no horizonte. Seus pés deslizavam pelo tablado e eram seguidos por cada um na plateia, sua voz suave ecoou: “Sabe-lo bem: a máscara da noite me cobre agora o rosto; do contrário, um rubor virginal me pintaria, de pronto, as faces, pelo que me ouviste dizer neste momento. Desejara – oh! minto! – retratar-me do que disse. Mas fora! fora com as formalidades! Amas-me?”.

Como ousaríamos não amar, Julieta? A luz já era fraca e trazia um tom de melancolia, sabíamos que o fim estava perto. Julieta veio anunciar. E que forma mais agradável que está para mostrar que mesmo a mais bela das peças teatrais pode ter um fim trágico... A pequena Julieta apenas deitou-se no palco e esperou que as cortinas se fechassem. Do outro lado, os espectadores ficaram atônitos, comovidos com a peça e com aquelas crianças que emprestaram sua alegria e sensibilidade.

Música de hoje:



terça-feira, 17 de abril de 2012

O peso da vida



Ao ver seu marido, companheiro de décadas partir, ela não só sentiu a solidão de dormir novamente em uma cama vazia. Sentiu também o peso da vida. Ela, que desde moça só enxergava o mundo sob os olhos de outras pessoas, agora teria de ter seus próprios olhos.

Filhos e netos criados, a casa já fora vendida, o cão que viveu por quase 20 anos também partiu. E o que ficou pra mim? – pensa em meio à saudade de um marido que há tempos já se perdia em sua própria personalidade.

Ficam os fios platinados no cabelo, as rugas que rasgam o rosto, as mãos ásperas de dona de casa. Fica a saudade, Else. Sentimento estranho que nos faz fraquejar em momentos como este, mas que nos move quando sabe que pode ser sanada.

As coisas boas também ficam. Você acorda e lá estão as lembranças, vai dormir e elas aparecem novamente. As danadas surgem em meio ao choro e, estranhamente, nos fazem rir. Porque nos faz lembrar dos dias, lá no sítio... Dele em sua melhor forma sendo turrão e indo dormir quando todos tomavam a saideira.

Esse é o olhar que terá: da saudade embrulhada em fotos antigas e memórias de uma vida juntos.

Harmonização do post fica com a música Bandolins:


segunda-feira, 16 de abril de 2012

Direto e reto

Meu primeiro trabalho em comunicação foi com o jornalista Otávio Rodrigues. Juntos, escrevemos três edições de uma revista de comunicação interna de uma empresa de planos de saúde. Ele me foi um mestre. Deu puxões de orelha em textos perdidos, mas também elogiou quando via algo bom. Eu, confesso, me irritava. Mas, aprendi algo que até então não sabia: receber uma crítica de forma positiva.


Adianto a explicação aos seres evoluídos que me julgaram imatura e mimada ao dizer que aos 19 anos ainda não sabia receber uma crítica. Não é tarefa fácil ter seu ego ferido. Alguns não suportam quando alguém lhes diz algo sobre a aparência, outros sobre sua virilidade. Já eu me firo com críticas à minha capacidade intelectual e aos meus valores. 


Aos poucos notei que aquelas críticas eram constatações reais sobre meus defeitos como profissional. E, se quisesse crescer, teria de aceitá-las e corrigi-las. Hoje, não digo que sou aquele ser evoluído citado anteriormente. Mas, meu texto por certo não é mais o mesmo.


Em minha busca por novos rumos tornei a procurar Otávio. Mandei um e-mail pedindo ajuda para freelas, mas nada pode ser recebido sem um questionamento e ele logo me perguntou qual minha agenda, disponibilidade, propósitos, em suas palavras "Me escreva uns dois parágrafos, se isso não for estragar suas unhas". Suei frio ao ler tantas perguntas em meio a um simples pedido de ajuda. 


Rascunhei uma resposta, apaguei, mais esboços... e, da forma mais sincera, a resposta veio na ponta da língua.


"Quero que meu trabalho seja parte complementar da minha vida, ganhar dinheiro e perder qualidade de vida não é minha praia. Eu amaria deformar opiniões! Escrever sobre novidades e sobre coisas corriqueiras, mas de uma forma diferente. Quero escrever pra cativar, pra fazer as pessoas pensarem. Quero dar minha opinião, mas receber muitas outras em troca.


E quem me dera se minhas barreiras fossem as unhas. rsrs Minha vaidade é muito mais intelectual do que física. E, se não escrevo mais de dois parágrafos saiba que não é porque me faltam ideias, estas são tantas que mal consigo organizar. Daí, as condenso em poucas linhas, o texto fica murcho e sem personalidade - sem um gran finale".


Em dois minutos, a resposta: " Você acaba de escrever um de seu melhores textos, posso assegurar. Love it...    ;)  ".


Sorri. Porque achei que tivesse perdido a mão para um texto digno do selo Otávio Rodrigues de aprovação. E isso me provou que não. Por isso, a busca continua! Foca continua procurando, só que agora com uma ponta de orgulho a mais.

domingo, 15 de abril de 2012

Começo da saga

Há dez anos escrevi meu primeiro jornal. Desenhei a foto, coloquei legenda, texto, diagramei e manchetei: 'BMW bate na Castelo Branco!'. Quando minha mãe chegou em casa lá fui eu apresentar meu novo trabalho, minha futura profissão. Sem dúvida, eu nasci jornalista.


Anos depois, surgiram as dúvidas. Optei por oceanografia, meteorologia, medicina, ciência sociais... Eu queria ser tudo isso, mais uma vez me descobri jornalista.


Entrei na faculdade de jornalismo e de letras, por um ano e meio fiz as duas juntas. Quando já não aguentava mais estudar para cinco provas em um mesmo dia, desisti de Letras. 


Quatro anos se passaram, eu me formei. Passei de estagiária de uma agência de comunicação e RP para Trainee. Lá, eu vejo que em meio a tantos jornalistas, há pouquíssimos que o são de fato. Com essa contatação, veio o medo. Como seria se eu abdicasse do jornalismo sem ao menos tentar, sem publicar uma matéria assinada por mim? 


...


A partir dessa dúvida, nasceu este blog. A continuação daquele jornalzinho que criei quando criança, esse é o meu espaço de opinar, criar novas formas, errar e acertar muito! 


Aos estimados leitores do Foca procura - sejam dois ou 2.000 - sintam-se em casa :)