segunda-feira, 16 de julho de 2012

Aquela velha história


Minha bisavó se casou aos 14 anos, teve três filhas e um filho; minha avó se casou aos 30 anos teve cinco filhas e um filho. Minha mãe se casou – informalmente- aos 41 anos eu já tinha 19 anos. A sociedade evolui, as pessoas criam consciência do tempo em que vivem, é tudo absolutamente mutável – ainda bem!

Hoje, uma revista voltada ao público feminino pode falar sobre sexo, dar dicas de vibradores, ensinar o kama sutra; este blog pode escrever a palavra ‘masturbar’ sem medo de pequenas repressões sociais; minha mãe pode ler isso sem ter vergonha do burburinho por entre a vizinhança.

Mulheres, vindas ou não da costela de Adão, tem (quase) tanta liberdade quanto os homens. Estes, por sua vez, não precisam nos impressionar mais. E, acho, que isso é um ganho para ambos os lados! Imagine a pressão social pela qual um homem passava nos anos 50. Meu avô quase não pode se casar com minha avó por ser nordestino-baiano-barbeiro. Qual futuro haveria de dar à sua prole?

Mas os tempos são outros. O que me espanta é que mesmo assim hoje eu ainda me deparo com o conteúdo absolutamente ultrajante de certas revistas femininas. Neste final de semana li uma publicação voltada a mulheres entre 18 e 25 anos e senti que a mensagem final da publicação era: “Mulher: Seja linda, ousada, inteligente – mas, não tanto -, prendada e sexualmente ativa, assim os homens não resistirão!”.

Homens e mulheres, quem nunca acordou e teve vontade de colocar sua melhor roupa, ‘ajeitar o cabelinho’, andar pelas ruas e receber elogios? Ou então, quem nunca procurou fazer algo sozinho, seja uma massa ou um texto para um blog, e ficou feliz ao notar que foi um sucesso?

Nossas conquistas devem ser grandiosas para que nós mesmos possamos desfrutá-las. E acho que algumas dessas revistas femininas acabam distorcendo a realidade, ou camuflando-a em um lindo filtro sépia.

Há pouco, vi um blog novo: uma menina linda de 22 anos escrevendo um texto absolutamente destrutivo. Nesse microblog, ela vai contar quais suas frustações por estar ‘gorda’ e, pelo que entendi, vai narrar uma nova vida, sua ressurreição como uma pessoa magra.

Ora pois, neste exato momento me vejo boquiaberta em frente ao computador perguntando a mim mesma ‘Ela não tem a menor ideia de como é bonita e de como escreve bem, como eu gostaria de ser sua amiga, te dar um abraço e dizer o velho discurso da real beleza’. Mas, tornando à consciência, vejo que além de não ter qualquer intimidade para isso, nada vindo de mim ou até mesmo de um amigo poderia mudar a percepção dela sobre seu corpo. Não posso afirmar que isto é culpa das tais revistas, mas essas publicações também não fazem o papel contrário, se apresentam como cúmplices das mulheres, mas pouco passam de guias de bons costumes.
                                  
Lembro-me de quando tinha 13 anos e lia o que me parecia ser o ideal-inatingível, os vestidos lindos de festa, tratamentos caríssimos para os cabelos, produtos que prometiam acabar com aquelas espinhar horríveis, mas que apenas deixavam minha pele mais estranha e avermelhada. Eu tinha apenas 13 anos e já era bombardeada de desejos que sequer eram os meus. No auge dos meus 47 quilos me achava rechonchuda e indigna de dirigir qualquer palavra aos meninos da minha sala.

Ressalto que não culpo essas revistas por minha insegurança. Mas, hoje, um pouco mais esclarecida, vejo que parte de minhas vergonhas por ser tão distante do padrão vieram de quem escolhia esses padrões. Faço a mea culpa como parte disso, escolhi a profissão que mais admiro, mas também a que mais condeno. Adoraria fazer parte de uma possível evolução de certos canais de comunicação, desde que assim eu pudesse abrir uma dessas revistas e sentir que algo está sendo feito.


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Welcome to your life/ There's no turning back
Even while sleep/ We will find you
Acting on your best behaviour/Turn your back on mother nature


Everybody wants to rule the world






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