quinta-feira, 19 de abril de 2012

auto-retrato

Ela queria ser mais, um mundo só dela se formava a cada novidade que lhe era apresentada. Ela queria dançar, rodar, fechar os olhos e respirar um ar só seu. Em um quarto banhado pela luz do fim da tarde de outono, com o frio entrando aos poucos pelas janelas e espalhando o cheiro de café que sentia na sua infância, quando o mundo ficava errado, mas logo se acertava com o baixar das luzes.

Ria debochada de suas bobagens. Lembrou das vezes em que disse que a noite tinha cheiro, a água tinha gosto e as estações do ano cores. Sorriu de novo, voltou a música... tornou a fechar os olhos e dançar. Na ponta dos pés, girando sem vertigem, erguendo os braços, respirou profundo aquele momento gostoso.

Caiu no chão, a poeira do carpete pouco importava, por ali permaneceu deitada por uma quantidade de tempo  inestimável, quando estava em seu mundo as horas eram outras, perdia-se acelerando ou retardando o relógio. Abriu os olhos, colocou as mãos na cabeça e se levantou. Deu o primeiro suspiro realista do dia, e voltou a rir ao lembrar de sua patética figura deitada no chão sujo.





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