quarta-feira, 18 de abril de 2012

Vida no Ato


Ato 1

Suas feições eram mesmo parecidas, seus traços comuns, mas não foi difícil notar que havia uma grande diferença entre cada um daqueles rostos iluminados pelo canhão de luz que vinha lá do fundo. Eram aproximadamente 30 expressões, personalidades distintas marcadas pelas semelhanças típicas de crianças com Síndrome de Down.

Quando as cortinas subiram mal continham o riso, levavam as mãos na boca mostrando a ansiedade, como se aquela fosse a primeira noite em que se apresentariam. A luz amarelada e a música alta tomaram conta do palco.

Abaixam-se as cortinas...

Durante a Idade Média suas feições eram usadas como ideal do rosto angelical e nessa mesma época sua expectativa de vida não passava dos 15 anos. Hoje, com estudos avançados na medicina, a expectativa de vida de uma pessoa com Trissomia do cromossomo 21 pode chegar aos 70 anos.


Ato 2

“Nós iremos fazer de conta de que isso aqui é uma audição, quem quiser pode se apresentar”. Assim que o diretor deu o sinal, as luzes diminuíram e uma bela dançarina entrou no palco, seus braços estavam contorcidos, demonstrando certo receio em se apresentar para tantos estranhos, ela esboçou um sorriso tímido, mas, em poucos segundos, se transformou na estrela do palco.

Hoje, relembrando do espetáculo, penso como aquelas crianças são únicas. Antes, eu poderia apenas afirmar que são como nós que carregamos apenas um par do cromossomo 21. Mas, reduzir tudo a apenas isso seria falho de minha parte. Porque eles são mais, eles têm paixão em cada ato. Não deixam o sorriso sair de seus rostos por um momento, interpretam a dor com o olhar tranquilo, mesmo no palco choro chega anunciando futuras cócegas.

Pode ser a paixão pelo teatro, a emoção de ser o centro de um espetáculo tão grande, a felicidade por ver a família esperando as cortinas baixarem para entregar o buquê de flores, ou simplesmente a alegria ao receber aquilo que lhes foi dado.


Ato 3

O espetáculo Up não é apenas uma peça de teatro, ou um musical. É a única forma com que algumas dessas crianças com Síndrome de Down têm para se expressar. A apresentação na frente de um público desconhecido já é uma vitória para muitas dessas crianças. Eles mal podem esperar para o momento em que serão as estrelas da peça que gira em torno de comédia e música. Todos terão seu ato e isso os move.


Ato Final

Com os cabelos longos e louros a jovem acompanhava com os olhos uma linha desenhada no horizonte. Seus pés deslizavam pelo tablado e eram seguidos por cada um na plateia, sua voz suave ecoou: “Sabe-lo bem: a máscara da noite me cobre agora o rosto; do contrário, um rubor virginal me pintaria, de pronto, as faces, pelo que me ouviste dizer neste momento. Desejara – oh! minto! – retratar-me do que disse. Mas fora! fora com as formalidades! Amas-me?”.

Como ousaríamos não amar, Julieta? A luz já era fraca e trazia um tom de melancolia, sabíamos que o fim estava perto. Julieta veio anunciar. E que forma mais agradável que está para mostrar que mesmo a mais bela das peças teatrais pode ter um fim trágico... A pequena Julieta apenas deitou-se no palco e esperou que as cortinas se fechassem. Do outro lado, os espectadores ficaram atônitos, comovidos com a peça e com aquelas crianças que emprestaram sua alegria e sensibilidade.

Música de hoje:



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