Escutando o velho rádio cinza, olhou para a janela da
cozinha de sua casa e notou que alguns vidros não haviam sido limpos conforme
gostaria. Irritou-se; Não que fosse apegada às janelas ou a algum tipo de
limpeza profunda, apenas que ‘os nervos’ estavam à flor da pele.
Quem a conhece sabe que se deixa tocar Roberto Carlos no
último volume e começa a limpar o guarda-roupa é porque o dia começou errado.
Nessa manhã, notou que além de sujeira no vidro da janela, não havia água na
geladeira. Arrastou o chinelo pela casa resmungando de suas obrigações como
mãe, como vó, como esposa...
Foi no quintal regar suas plantas, já que essas pareciam ser
as únicas que davam ouvidos a ela ultimamente. Mas, não eram; As filhas ouviam
seus pitacos sobre a saúde dos netos que comiam tão pouco! Os netos, por sua
vez, ouviam sobre os perigos de se estudar e trabalhar em São Paulo, a
importância de se tirar boas notas e a cada novo conselho surgia uma nova
piada.
Aliás, uma de suas marcas são as piadas e brincadeiras. Todo
aniversário havia um presente, e em todo presente há umas 15 embalagens, o
felizardo teria de passar por camadas de papéis coloridos até chegar em caixas para,
finalmente, abrir um envelope com um colar ou uma meia. Uma vez, na Páscoa, os
netos retribuíram com um ovo grande, suculento... quando abriu a embalagem viu
que era só uma manga madura - riu e
chorou tanto que a família achou que teria um ataque.
Mas a saúde é de ferro, só fica parada quando as filhas
apontam para o pé inchado de tanto andar. Quando serve a mesa é a última a
sentar, certifica-se que todos estejam servidos, que não falte um grão de arroz
na mesa, para então poder sentar e fazer seu prato – sem deixar de olhar para
as refeições alheias, mede cada garfada dos presentes.
No passado, tinha de dividir um ovo e muita farinha entre os
filhos. Hoje, não deixa que estranhos saiam de sua casa sem uma xícara de café
ou um copo de água, aos mais íntimos oferece bolacha, à família abre a geladeira
e a despensa, oferecer e aceitar comida é termômetro de amor.
E hoje, mesmo fingindo preferir ouvir o rei às reclamações
dos netos e filhos, não se aguenta de amores pelos seus queridos. Rega as
plantas, serve a mesa, varre o chão, pega as crianças no colo... Dita move uma
família.
Que saudade de vó!
ResponderExcluiré... elas são uns doces!
Excluirentrei para registrar a mesma coisa, que saudade de vó!
ResponderExcluir